Nenhum CIO quer ser lembrado como o executivo que “derrubou o faturamento” porque decidiu atualizar o sistema de pedidos em plena virada de trimestre. Ainda assim, continuar rodando o mesmo código de dez ou quinze anos atrás custa cada vez mais caro — em licenças, em falta de talento capaz de dar manutenção e, principalmente, em oportunidades de negócio que ficam na mesa porque novas ideias esbarram na rigidez do legado. 

A boa notícia é que modernização de sistemas core e continuidade operacional não precisam ser interesses opostos. Nos últimos anos, surgiram padrões de arquitetura, práticas de engenharia e serviços de nuvem que viabilizam uma transição gradual, enxuta e mensurável.  

Nesse post, você encontrará um passo a passo testado em empresas que faturam centenas de milhões de reais, operam sob rígidos SLAs e são auditadas de forma rigorosa — para migrar sistemas críticos do legado para a nuvem sem interromper o seu negócio.  

Quer saber como isso é possível? Continue a leitura! 

O ponto de partida certo: diagnóstico de risco e valor 

Toda jornada de modernização começa com uma pergunta simples: qual parte do core mais limita o crescimento do negócio hoje? Pode ser o tempo que o batch de faturamento leva para fechar o mês, a instabilidade durante picos de vendas ou a impossibilidade de expor APIs para novos parceiros. 

Para responder com objetividade: 

Mapeie fluxos de receita e compliance: liste quais módulos sustentam etapas críticas de cobrança, cálculo tributário, estoque regulado ou registro de operações fiscais. 

Colete dados de dor real: latência na ponta, custo de infraestrutura, horas gastas em incidentes P1, multas por atraso em relatórios obrigatórios. 

Estime janela de intervenção tolerada: mesmo ambientes 24×7 costumam ter minutos de folga que podem ser aproveitados, desde que identificados. 

Esse “raio-X” revela duas coisas: onde a modernização de sistemas core gera maior retorno imediato e quanto risco se pode assumir em cada sprint de mudança. 

Quebrar para construir: encapsulamento antes da reescrita 

Tentar reescrever um monólito de anos em uma tacada só é a rota mais curta para o fracasso. O segredo está em encapsular primeiro, refatorar depois

Criando a casca protetora (API Gateway ou Proxy) 

Coloque um layer na frente do sistema: ele intercepta chamadas, autentica usuários, aplica rate-limit e, de quebra, coleta métricas em tempo real. Nada muda para quem está do lado de fora, mas você ganha a alavanca para redirecionar tráfego quando o primeiro microsserviço estiver pronto. 

Padrão Strangler Fig 

Em vez de “derrubar e reconstruir”, envolve-se o módulo herdado com serviços novos. Um a um, esses serviços assumem funcionalidades específicas (por exemplo, cálculo de ICMS ou consulta de limite de crédito). Quando 100% das requisições migram, o pedaço legado é aposentado — sem nenhum segundo de indisponibilidade

O maior benefício? Feedback constante do mundo real. Cada pequena vitória valida a arquitetura, motiva o time e gera um caso de uso concreto para convencer áreas vizinhas. 

Dados: o coração que nunca pode parar 

Código ruim se reescreve; dados perdidos não voltam. Por isso, a modernização de sistemas core só funciona quando a estratégia de informação é tão robusta quanto o código. 

Change Data Capture (CDC) 

Ferramentas como Debezium ou Fleet por streaming replicam alterações do banco legado em tempo quase real para um repositório moderno. Assim, novos serviços podem ler dados frescos sem enfileirar transações no mainframe. 

Event Streaming 

Transforme cada insert, update ou delete em evento publicado no Kafka. Serviços consumidores criam projeções próprias (materialized views) e rodam lógicas independentes. Caso algo falhe, basta reprocessar o log — e o estado se reconstrói. 

Shadow writes e validação 

Durante a migração, escreva em paralelo no banco antigo e no novo. Relatórios de consistência rodam em background até que qualquer divergência fique abaixo de um limiar definido com a área de negócio. Só então a fonte da verdade troca de lugar. 

Resultado: nenhuma virada arriscada, dados íntegros e auditoria feliz. 

Esteira de deploy pensada para Zero-Downtime 

Nada adianta ter microsserviços fantásticos se o go-live precisar de sábado inteiro parado. 

Três práticas tornam a mexida quase invisível: 

Blue-Green Deployment: dois ambientes idênticos; o load balancer aponta para o verde quando o check de saúde confirma estabilidade. Reversão é trocar o ponteiro de volta. 

Canary Release: começa com 1% do tráfego, avança para 5%, 20%, 50%. Se o alerting pegar algo estranho, basta congelar a progressão. 

Feature Toggles: a funcionalidade nova existe em produção, porém desligada. Liga-se para grupos de controle e, só depois, para todos. Isso separa deploy técnico de lançamento comercial, dando paz ao marketing e ao desenvolvedor. 

Com essa tríade, janelas de manutenção viram exceção, não regra. 

Segurança e compliance “shift left” 

Empresas de setores consolidados respondem a reguladores: BACEN, SUSEP, ANP, ANVISA ou quem quer que fiscalize seu nicho. Qualquer brecha de dados custa caro — e modernizar não pode abrir flanco. 

Infra-as-Code: Terraform ou CloudFormation garantem que toda modificação vira commit versionado. Auditoria encontra o “quem fez o quê” em minutos. 

Pipeline de segurança automatizado: testes SAST/DAST e varredura de dependências rodam em cada build; uma CVE crítica bloqueia o deploy antes de chegar à nuvem. 

Data Masking dinâmico: amostras de produção, usadas por squads de analytics, chegam ofuscadas por padrão, preservando LGPD e SOX sem atrito. 

O resultado é um SOS jurídico zerado: aquilo que antes dependia de planilha manual agora sai de logs assinados digitalmente. 

Governança de custo e performance na nuvem 

Migrar para nuvem sem controle vira boleto surpresa. Por isso, cada microsserviço ganha limites claros de: 

Orçamento mensal: budgets e alerts enviam e-mail (ou Slack) se o gasto diário extrapolar a média histórica. 

Autoscaling preditivo: modelo de ML simples (geralmente baseado em sazonalidade) prevê pico e sobe units antes de o usuário sentir lentidão. 

Tagueamento obrigatório: nome do sistema, squad responsável e centro de custo acompanham o recurso desde o primeiro terraform apply

Dessa forma, a modernização de sistemas core entrega elasticidade sem causar descontrole nas despesas operacionais. 

O lado humano: cultura, processo e comunicação 

Tecnologia não move sozinha. Três pilares garantem que o pessoal compre a mudança: 

Transparência radical: dashboards públicos (para TI e negócio) exibem SLAs, incidentes e economia real. O ceticismo se dissolve diante de números. 

Treinamento hands-on: devs que mexiam em COBOL (linguagem comum orientada para os negócios) recebem labs de contêiner e pipelines; ao ver o ganho de tempo, viram evangelistas internos. 

Governança Lean: mantenha o comitê que aprova mudanças pequeno, com pessoas de negócio que falam a dor em linguagem de valor (“cada 1 h de indisponibilidade custa X em vendas”). Isso agiliza e dá propósito. 

Com o clima certo, ninguém luta contra a modernização; ao contrário, pede para ser o próximo módulo contemplado. 

Métricas que importam para o board 

Modernizar por amor à engenharia não sustenta orçamento. Use indicadores que o CFO entende: 

Esses números sustentam o argumento de que a modernização de sistemas core não é capricho, e sim investimento de retorno rápido. 

Caso condensado: precificação em tempo real no atacado 

Uma distribuidora B2B sofria lentidão diária às 18h, quando representantes fechavam pedidos. O algoritmo de preço morava no mainframe; processava lote, não evento. 

  • Encapsulamento pelo API Gateway em 4 semanas. 
  • Microsserviço de precificação containerizado em linguagem moderna, rodando em EKS. 
  • CDC replicou a tabela de estoque para DynamoDB em latência inferior a 3 segundos. 
  • Canary com 2% de pedidos durante um feriado local — zero divergência. 

Resultado no primeiro mês: 26% mais pedidos aprovados no horário crítico, R$ 3 mi de faturamento extra e três incidentes P1 a menos. A diretoria, antes reticente, aprovou a expansão para o módulo de crédito antes do fim do trimestre. 

Checklist final antes do “go” 

  • Contrato de risco e valor alinhado a cada sprint. 
  • Backlog priorizado com quick wins de alto impacto visível. 
  • Pipeline CI/CD com automação de testes, segurança e governança. 
  • Modelo de dados híbrido (legacy + nuvem) com replicação em tempo real. 
  • Estratégia de rollback clara — se o canário gritar, volte ao azul. 
  • Métricas de negócio publicadas desde o primeiro deploy. 

Se três itens ainda estiverem pendentes, o time não avança. Disciplina é o que separa projetos épicos de dores de cabeça intermináveis. 

Para que você possa se aprofundar ainda mais, recomendamos também a leitura dos artigos abaixo:       

Conclusão 

“Não podemos parar” deixou de ser desculpa para engavetar projetos de modernização. 

Hoje, padrões de arquitetura, serviços gerenciados de nuvem e esteiras de automação permitem evoluir o core com operação 24×7 intacta. O segredo é encapsular antes de refatorar, sincronizar dados em tempo real, automatizar testes e deploys, e medir valor em reais desde a primeira entrega

Ao seguir os passos descritos — diagnóstico de risco, Strangler Fig, pipeline zerodowntime, segurança shift left e governança de custo — o legado deixa de ser âncora e vira ponto de partida para iniciativas de inteligência de dados, canais digitais e modelos de receita até então inviáveis. 

A estrada não é isenta de curva, mas está pavimentada: empresas em setores regulados já comprovaram que a modernização de sistemas core pode acontecer em ritmo de sprint, sem desligar a engrenagem que sustenta o faturamento.  

Esperamos que você tenha gostado do conteúdo desse post!  

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